5.12.12

[Resenha] A culpa é das estrelas... e do John Green


Esse livro foi uma daquelas paixões que a gente sente só de olhar para ele.
E, citando as expectativas discutidas pela Paola do Livros e Fuxicos, ele começou levemente de acordo e superou todas! E são tantos quotes, que hoje farei um padrão não seguido por mim: eles permearão o texto.

"(...) e me ocorreu que a ambição voraz dos seres humanos nunca é saciada quando os sonhos são realizados, porque há sempre a sensação de que tudo poderia ter sido feito melhor e ser feito outra vez."
p. 275

Acredito que não haja nada mais para dizer quanto a história em si, falar mais do que isso afetará o envolvimento com a história.
Posso dizer apenas que Hazel conhece Augustus através de um amigo dele que frequenta o grupo de apoio e que boa parte do envolvimento deles se dá relacionado a um livro que é a paixão da Hazel.

A escrita de John Green é deliciosa. Leve sem ser superficial, fluida, com os termos certos nos momentos apropriados.
Acrescento que a condução da história dada por ele é brilhante. Lembram que eu comentei sobre Belle começar despejando tudo abruptamente? (embora eu relembre que não veja isso como um defeito, desde que consiga manter o livro até o fim) Nesse caso o autor foi me conduzindo tranquilamente, eu não estava maravilhada, estava satisfeita com o que estava lendo. E o tema e as abordagens que ele trazia me despertavam.
Comentei com a Raquel durante a tarde que estava lendo o livro, e que embora não estivesse sendo 'tudo o que eu esperava', estava gostando muito.
Naquela mesma noite eu terminei a leitura e me retifiquei no facebook. O livro era melhor 'do que qualquer coisas que pudesse esperar dele'. Devastador!

"As pessoas falam da coragem dos pacientes de câncer, e eu não a nego. Por vários anos fui cutucada, cortada e envenenada, e segui em frente. Mas não se enganem: naquele momento, eu teria ficado muito, muito feliz em morrer."
p.101

Eu me remoía com questionamentos sem resposta com relação ao câncer e à vida. Pensava que um livro sobre o câncer que traz todo mundo batalhando contra o sofrimento é extremamente clichê, mesmo que admirável (e Hazel combate um pouco essa ideia). Porém, a abordagem de tratar as pessoas com câncer (em especial adolescentes) sob a perspectiva natural, também não é tão inusitado assim (posso citar alguns filmes).
Eu fiquei balançando sob que opinião formar se eu tivesse que defender minha obra sob a perspectiva de não retratar 'os batalhadores contra a doença'. E levar para o caminho que John Green escolheu, com certeza não teria passado pela minha mente tão facilmente.

"O câncer também é um efeito colateral de se estar morrendo. Quase tudo é, na verdade." (...) "O grupo era formado por um elenco rotativo de pessoas com várias questões psicológicas desencadeadas pelos tumores. A razão de o elenco ser rotativo? Efeito colateral de se estar morrendo"
p.11
"-(...)Acho que foi mais um caso de 'privilégio do câncer'. Os 'privilégios do câncer' são pequenas coisas que as crianças com a doença recebem e as saudáveis, não: bolas de basquete autografadas por ídolos do esporte, perdão pelo atraso na entrega do dever de casa, carteiras de motorista não merecidas etc."
p. 28

É um livro que, embora não seja um clássico, todo mundo precisa ler um dia. É OBRIGADO A LER UM DIA. Porque trata não apenas de viver, de viver com doenças, de viver para além da doença. Trata de realizar sonhos, de acreditar nas pessoas, de amadurecer, de amar e se permitir ser amado por todos os tipos de amor. E também, de como nos portamos com as pessoas que compartilham a nossa vida.

"(...)- Para não ser injusta com a Monica - falei -,o que você fez com ela também não foi muito legal.
- O que eu fiz com ela? - ele perguntou, na defensiva. 
- Você sabe, ter ficado cego e tudo mais. 
- Mas isso não foi culpa minha - ele disse. 
- Não estou dizendo que foi culpa sua. Estou dizendo que não foi legal."
p. 126

Gostei de ler as respostas do autor aos questionamentos dos leitores (não leia antes do livro, sério!). Uma delas em especial, sobre um ponto aparentemente insignificante da história:


Por que você colocou a Kaitlyn no livro? Por que a Hazel seria amiga de alguém como a Kaitlyn?

R.: Ah, eu gosto da Kaitlyn. Uma das coisas que não dá para ver muito bem, porque o livro é escrito da perspectiva da Hazel, é que a Hazel é: 1) muito bonita, e 2) ela era bastante popular quando frequentava a escola. Só que faz muito tempo que ela não vai lá.
Nós achamos que “popular” é antônimo de “inteligente”. (Nós, nerds, em especial, parecemos gostar dessa ideia.) Mas a verdade é que existem muitas pessoas populares que também são geniais e bastante engajadas intelectualmente. (Kaitlyn talvez não seja uma dessas pessoas, mas a Hazel com certeza é.) 
Agora, o motivo pelo qual coloquei a Kaitlyn no livro: eu quis que o leitor fosse capaz de ter alguns vislumbres da vida da Hazel antes da doença, que era radicalmente diferente da vida que ela leva no livro, e quis que o leitor percebesse a distância entre Uma Vida Normal no Ensino Médio e A Vida que a Hazel Leva Agora.


Conseguem perceber as sutis riquezas do texto de John Green? Ele consegue nos trazer os contrastes de um modo que não seja informativo, como apresentação. As características estão dispersas no texto.
Definitivamente a culpa é das estrelas sim, por muitas coisas ruins que ocorrem nas nossas vidas. Só que um livro tão incrivelmente transformador e singelo, só pode ser culpa do John Green.

"Não dá para escolher se você vai ou não vai se ferir neste mundo, meu velho, mas é possível escolher quem vai feri-lo. Eu aceito as minhas escolhas."
p. 283


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