20.2.13

[Resenha] A lagoa azul




Título: A lagoa azul
Título original: The blue lagoon
Autor(a): Henry De Vere Stacpoole
País: Irlanda
Ano publicação original: 1908
Editora: Globo
Páginas: 226




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(4/5)

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Essa temporada de livros de biblioteca está me deixando é com a meta da rinite, isso sim. E continuando na onda das surpresas literárias depois da visita e num 2013 - livros que viraram filmes, eu trago hoje um velho conhecido da Sessão da tarde.
A versão aí do lado é igual a que eu li, quase destruída (a capa despencou no final, tristemente). Gostei bastante dessa capa, mais do que a do filme que segue acima. Mas o destaque é para uma versão da Editora Arcádia que eu vou deixar no fim da postagem.
Quero dar só uma informação extra: a tradução da versão brasileira foi feita por ninguém menos que Mário Quintana. Perceberam a preciosidade dupla da minha leitura?

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Breve sinopse

Durante um incêndio no navio, descem ao bote o marinheiro Paddy Button e o senhor Arthur Lestrange juntamente com seu filho e sua sobrinha em pleno nevoeiro.
Após ficar à deriva chega a uma ilha no Pacífico Sul Paddy com as duas crianças, Dick e Emelina. Os anos passam e eles crescem em um mundo diferente e selvagem esquecendo-se do resgate que não chega. 
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A história em trechos gerais acredito ser do conhecimento de todos, mesmo que sempre ocorram modificações quando as obras literárias são adaptadas para os filmes.
Aqui encontraremos uma história mais longa que a das telas, também menos romântica, mais aventuresca em alguns momentos e menos em outras.

A escrita é em capítulos curtos, com narração em terceira pessoa.
Conhecemos os personagens durante a viagem no navio, e logo ali já nos são apresentadas suas principais características: Dick um menino audacioso que é inteligente e reclama das regras, Emelina uma menina dócil e ligeiramente medrosa, que tem sonambulismo e uma caixa misteriosa que carrega para todos os lugares (e vive perdendo pelo navio).
Há algo especial também na histórias dos dois jovens. Arthur Lestrange os cria tentando privar-lhes de alguns conhecimentos. Eles desconhecem a morte. Ele procura poupá-los do sofrimento da perda de seus pais e de outros conhecidos omitindo a única certeza da vida, partindo do pressuposto de que 'as crianças esquecem fácil'. Ou seja, se dizemos que alguém não está aqui porque foi viajar, logo elas se esquecem da pessoa e não tornam a perguntar dela.
Esse pressuposto é retomada diversas vezes no livro. O interessante é a surpresa quando as próprias crianças revelam na ilha para Paddy que não se esquecem, apenas se distraem facilmente e aceitam melhor o presente.
Eles se recordam das cenas e palavras ditas. Lembram de tudo e com detalhes, embora não possam compreender seus significados. Entretanto, facilmente aceitam o fato de que o senhor Lestrange não aparece logo e deixam de esperá-lo.

O livro nos revela um posicionamento do autor de que a vida afastada da sociedade e em meio selvagem poderia nos trazer privilégios, poderia nos trazer mais felicidade. As crianças são mais felizes e livres onde vivem agora, se adaptam facilmente (mesmo Emelina que não se relaciona tão intensamente com o meio). E Paddy  nunca foi tão feliz. Ele não deseja um resgate.

Alguns capítulos são dedicados a episódios cotidianos da vida nesse novo local, sem apresentarem significância para a trama. Alguns ofertam mistérios e desdobramentos que infelizmente não são melhor desenvolvidos na sequência. Porém o autor também nos traz surpresa diante de passagens que, assim como as crianças, passamos a esquecer para seguir o dia a dia da história.

Outro aspecto que me chamou muito a atenção, foi o modo de categorizar as personagens de Emelina e Dick. Mesmo com essa reverência ao estilo selvagem, vemos um modo de ver as relações de homem e mulher bem 'socializadas', típicas de uma sociedade europeia do século XIX e início do século XX.
Emelina cresce na ilha, já é uma mulher, mas ainda teme coisas assustadoras, não sabe remar ou pescar, ela aguarda Dick amarrar o barco e auxiliá-la a descer dele. Ela acredita que se perdê-lo estará desamparada. Sua ocupação é fazer coras de flores e admirar a beleza dos pássaros.

Dick é inteligente e astuto (às vezes até demais para uma criança). Ele constrói as casas, monta objetos de caça, caça, planta, colhe os alimentos, cozinha. Adora aventuras, o perigo, fazer grandes questionamentos. Ele supera os medos mais rapidamente que Emelina.

Emelina é tão ignorante que sequer compreende quando seu bebê nasce. E confesso que essa foi a parte mais mal trabalhada do livro. Eu entendo o romance não ser tão especial para o autor, foi algo natural (essa é a ideia). Entretanto, não vemos a surpresa de Emelina com a menstruação (que ela sequer um dia deve ter imaginado e não havia outros mamíferos na ilha para ela comparar). Não há manifestação no passar do tempo com a barriga dela crescendo (será que ela nem sentiu o bebê dentro dela?).
E o pior é quando (pode parecer spoiler, mas acredito que todos já viram o filme ou imaginam o nascimento de um bebê já que não existiam métodos anticoncepcionais lá!) ela desaparece por uma noite e volta com uma criança que ela não sabe de onde veio. Ela diz que simplesmente se sentiu indisposta e foi para  a mata como sempre faz com as enxaquecas, e desmaiou e acordou com o bebê ali. Sério! Eu fiquei pasma ao ler algo assim, onde parece que ela sequer sentiu as dores do parto (ou desmaiou assim que sentiu a primeira contração).

Enfim, eu gostei bastante e tentei atribuir essas falhas ao conhecimento de um homem daquela época que não sabia muito sobre como é a gravidez para uma mulher.
O livro não é profundo, é leve e acredito que bem mais feliz do que a história que passava nas nossas televisões durante às tardes. Vale a pena.

Capa linda da edição portuguesa. Dá pra comprar na Wook.

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