16.4.13

Um dia estranho

Hoje começaram as férias.
Mas só para quem não está em recuperação trimestral. Não que na minha série alguém fique em recuperação.
A Joana ficou. 
Acho que a Catherine ficou feliz com isso, embora não tenha demonstrado. Eu ficaria. Eu fiquei.
Principalmente porque como Joana estava na escola, nossos pais trabalhando e Catherine em casa. Lucas veio ficar aqui conosco.

Eu fiquei é a palavra exata para isso porque eu não estou feliz no momento. Agora mesmo eu estou escrevendo nesse caderno sentada no sofá e Lucas está assistindo a tv enquanto Cat pinta as unhas.
E o problema não está sendo minha irmão, porque ela fez um bolo delicioso para tomarmos lanche e tentou ignorar que o Lucas é irmão da Joana. Parece que ele é qualquer criança da minha turma da escola.

(...)


Tive que parar de escrever porque fui tirar o Félix de cima da geladeira e quando voltei o Lucas perguntou o que eu tanto escrevia.
Isso me irritou porque é o tipo de pergunta que QUALQUER CRIANÇA DA MINHA TURMA faria. Nunquinha a Renata, a Camille ou o Lucas. Eles já me viram escrever nesse caderno muitas vezes. Meses.

A gente não parece mais amigos mesmo. Ele não quis brincar de nada que eu propus. Disse que eram tolas e de crianças.
Fiquei tão braba que sequer consegui responder que ele não era um adulto. Estive mais braba quando ele começou a falar das brincadeiras que ele e a Mille participavam, ele realmente estava se achando muito legal fazendo aquelas coisas.
Aí a Cat começou a prestar atenção e riu tanto que segurava a barriga porque parecia já estar doendo.

Ela ainda está rindo e deixando o Lucas vermelho. Diz que ele é muito infantil por contar tudo isso como se estivesse "se achando". Ela fez as aspas no ar e eu finalmente entendi esse gesto.
Eu me segurei para não rir também. Porque a risada da Cat era contagiosa. Ela não tinha rido muito nos últimos meses.


(...)


Acho que eu não vou escrever por um tempo.
Estou me sentindo muito mal. E estou de castigo. Até o fim das férias.
Eu não entendi direito o que aconteceu, nem sei como eu reagi. Só sei por que reagi.

A Cat estava toda vermelha rindo quando o Lucas disse que criança era ela que queria ter dado algo para o Matheus e ele não quis. E que aí ela ficou tentando dar algo para todos os meninos.
Eu ia perguntar o que era que a Cat  tentou dar para o Matheus, porque mamãe sempre me mandou agradecer e aceitar o que meus amigos me davam de presente (mesmo que eu não gostasse).
Não deu de perguntar nada disso porque Cat parou de rir e ficou azul de tão branca. E eu percebi que ela tinha ficado tão chateada que não percebeu e estava enfiando o palito da unha na palma da mão e o sangue escorria.

Faz três semanas que minha irmã não chora mais trancada no quarto. Que ela faz todas as refeições junto comigo como sempre. Ela tenta ficar feliz desde aquele dia que eu estive doente e vieram aqueles meninos aqui.

Eu costumava desmaiar quando via sangue, mas quando vi minha irmã daquele jeito quis machucar o Lucas e joguei um fóssil de uma árvore que a mamãe tem na mesa de centro nele.
Demorou um tempo para que eu e a Cat percebêssemos que ele estava sangrando e quase desmaiando.

Ele levou oito pontos. E eu não quero nunca mais ser amiga dele.

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Letice é uma personagem criada por mim. Ela é uma menina de 9 anos que é cheia de questionamentos e apronta muito.

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