28.5.13

Cada um com o seu

Hoje passei o dia remoendo uma conversa que eu e a Cat tivemos no café da manhã.
Esse foi o primeiro sábado do mês que conseguimos todos comermos juntos pela manhã. Para comemorar, fomos todos para a cozinha e fizemos comida de hotel.
Tinha um bolo de chocolate com cobertura de brigadeiro que quase não sobrou, pão quentinho da receita da vovó, suco de laranja, mel, cereal, morango e mirtilos, ovos, queijo... Muita coisa!

Eu estava passando minha geleia no pão por cima do requeijão e colocando pedacinhos de morango. E a Cat mandou eu parar com aquela nojeira.

- Fica sempre misturando o salgado com doce, Leti. Come uma coisa de cada vez.

Acontece que eu gosto assim. Acho que a combinação do queijo com o doce causa uma sensação que me impede de parar de comer.
Tentei explicar isso para ela. Que eu não gostava era de comer um monte de doce junto e ainda toar suco de laranja entupido de açúcar. Suco de laranja nem precisa de açúcar.

Aí a Cat começou a rir. Falou que era verdade. Que tinha algumas combinações de comida que causavam uma sensação de vício na gente.

- Como hambúrguer, queijo tomate e ketchup. 

- Provavelmente porque tem um monte de intensificador de sabor nos ketchups - respondeu a mamãe.

- Não. - falou a Cat - Quando eu como outras coisas com ketchup não causa essa mesma sensação. É apenas quando há essa combinação.

Mamãe ficou com uma cara de pensativa e o papai acabou cortando os pensamentos dela:

- Você também adora comer fruta ácida com chocolate. - ele olhou para o prato com bolo de chocolate e as frutas -  Fica alternando e não para nunca, até acabar algum deles e você terminar com uma cara infeliz.

Todo mundo começou a rir, porque era verdade. Papai sempre evita trazer sobremesas azedas, embora eu adore, porque diz que a mamãe vai comer tudo e terminar infeliz.

- Papai, porque cada um de nós tem essas sensações diferentes? Porque ficamos com vontade de comer coisas que são viciantes para nós e  outras pessoas não gostam?

Foi a mamãe que começou a explicar, mas a verdade é que eu não entendi nada e fiquei na mesma. Tinha algo a ver com o cérebro.
Passei o resto do dia pensando por que nós não gostamos das mesmas coisas. Por que a Cat acha meus perfumes preferidos muito doces, por que amarelo não é a cor preferida de todo mundo se é a cor do sol, por que algumas pessoas gostam do inverno e outras do verão, por que tem gente que não gosta de abelhas, por que a Renata acha tão bobo quanto eu as brincadeiras do Lucas e ele não.

Aí eu fiquei triste. E decidi vir escrever para não pensar mais nisso.
Mamãe falou que quando eu não quisesse mais pensar sobre um assunto era para eu escrever num papel e jogar fora. Porque aí o pensamento iria para o papel.
Só que eu não quis jogar fora, quis escrever no meu caderno de pensamentos. Porque não queria esquecer. Queria um dia entender e esquecer somente agora. Se eu esquecer que me perguntei sobre os gostos diferentes, pode ser que nunca mais eu pense nisso de novo e a ideia vai ficar perdida.

Aliás, para onde será que vão as ideias que se perdem?

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Letice é uma personagem criada por mim. Ela é uma menina de 9 anos que é cheia de questionamentos e apronta muito.

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