17.3.14

[11x52] Surpreender-se e se encontrar

Foto: Laise Orsi Becker. Gralha-azul na Fazenda da Ressacada UFSC

Essa semana aconteceu algo bem inesperado no trabalho. Embora visitas de fauna (em especial aves) sejam comuns por aqui, ainda assim a gente recebe um presente vez ou outra.
Estávamos durante um procedimento e eu olho pela janela dando uma divagada sobre a árvore repleta de rolinhas, quando a minha colega exclama:

"Olha as gralhas ali!"

Eu me viro e vejo que na grade próxima a janela estão empoleiradas quatro gralhas-azuis. E a nossa admiração veio quando uma delas saltou pro chão atrás de uma presa.

"É uma perereca! Estão caçando a perereca!" - falou o outro colega - "Corre para filmar, Laise."

Saio eu desesperada, tirando luva e buscando meu celular com sua câmera medíocre. Eu estava com a pulsação acelerada, em euforia de empolgação. O mesmo sentimento que eu identifico tantas vezes e que me motivou a escolher essa profissão. A admiração pela vida, suas manifestações, sua beleza e crueldade.

Estou lá tentando filmar as quatro gralhas que se afastam investindo e bicando a pobre perereca (enorme!) que tenta se safar inutilmente. E surge mais um drama, vem surgindo das árvores do mangue três aracuãs interessadas na caça.
Nunca achei as aracuãs tão parecidas com galinhas, com sua passadinha despretensiosa, se aproximando. Imponentes com suas caudas e seu tamanho.
Se eu não estivesse fechada na sala, eu poderia dizer que todos os outros pássaros fizeram silêncio nesse momento, curiosos com o desfecho. Eu via alguns passarinhos empoleirados virados para a cena. Poderia dirigi-los.
Uma das aracuãs se afasta de seu grupo e se aproxima da "praça de alimentação". E a gralha "chefe" demonstra porque gralhas e corvos são considerados tão inteligentes dentre as aves. Ela põe a aracuã e suas colegas para correr, investe brigando, defendendo sua conquistada refeição. Só permite que as colegas do bando comam depois dela.

Tento me concentrar novamente no que estamos fazendo. Mas de tempos em tempos meu olhar gruda novamente na janela, a bióloga em mim está em polvorosa. Ninguém mais lembra da perereca, ou do que restou dela, porém a gralha "chefe" e a aracuã corajosa continuam se enfrentando. Ela voam e pousam em diferentes lugares. As demais gralhas já estão empoleiradas no muro assistindo. As outras duas aracuãs já estão prestes a abandonar a goiabeira ao lado da minha janela, para onde partiram assim que souberam que não conseguiriam a perereca.
As duas porém brigam e persistem. 
Eu estou quase largando tudo e grudando na janela, meus colegas me chamam de vez em quando porque fico desatenta. Balbucio o que continua acontecendo.

Nem vi as rolinhas desaparecerem quando as brigonas dominaram a árvore que antes ocupavam.
Fui embora a tarde e ainda pensava na cena ocorrida de manhã. Ainda penso. E penso no ânimo e na empolgação que aquela surpresa matutina me despertou. Como essa veia "naturalista" não me abandona e continua me causando o mesmo frisson. É inerente a pessoa que sou.

Só me resta rir das saracuras que chegam na hora do almoço, no terreno que todas as aves abandonaram há uma hora. Perderam um show! 

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