18.2.15

[Resenha] Uma constelação de fenômenos vitais - Anthony Marra





Título: Uma Constelação de Fenômenos Vitais
Título original: A Constellation of Vital Phenomena
Autor(a):  Anthony Marra
País: EUA
Ano publicação original: 2013
Editora: Intrínseca
Páginas: 336




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(5/5)

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Ganhei de aniversário da Kênia no ano passado, nem tinha ouvido falar sobre. Nem fazia ideia sobre o que era pela linda capa e título instigante.
Não foi uma leitura de flores, mas o resultado foi uma constelação de emoções.

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Breve sinopse

Em meio as guerras ocorrentes na Chechênia, Akhmed se vê na obrigação de amparar e proteger Havaa (8 anos) após seu pai ter sido levado.
Mesmo sendo um médico medíocre, ele convence Sonja a abrigar a menina em troca de seus serviços no hospital. Hospital que é a casa de Sonja desde o desaparecimento da irmã Natasha, por quem renunciou a vida e noivado em Londres para retornar ao cenário caótico em que tem vivido.

Mesmo nessa pequena vila, vidas e amores se entrelaçam numa constelação de fenômenos vitais.

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(...) O sol brilhava amarelo-gema entre as nuvens brancas. Quase meio-dia. s árvores pelas quais passavam se repetiam floresta adentro. Nenhuma era singular quando comparada à seguinte, todavia cada uma delas se mostrava única em algum pequeno aspecto: o número de galhos, a circunferência do tronco, a medida de folhas caídas ao redor de sua base. Nada além de pequenas particularidades, porém eram pequenas particularidades que transformavam dois olhos, um nariz e uma boca em um rosto.
p. 19

Eu comecei a leitura curiosa. Porque eu não imaginava um livro que tratasse de guerra. E eu jamais havia lido e conhecido muito sobre essa região do mundo.
Muito do que sei é especialmente por conta do tráfico de mulheres advindas dessa região, ou por notícias, filmes ou livros também.

Aqui, percorremos ao longo dos capítulos um período de 10 anos, e ao mesmo tempo a história no que seria o tempo atual... acontece em pouquíssimos dias.
Não sei se pela densidade do que é tratado, juntamente com essas mudanças temporais, mas eu achei que em determinados capítulos a fluidez se perde. Eu ficava mais distante da leitura. Quando os capítulos eram muito mais longos que os demais, realmente acabava que eu virava as páginas sem vontade.

Tudo que era retomado, especialmente pelos momentos da Havaa. A personagem é tão importante no livro, ao mesmo tempo que fica muito em segundo plano. Mas é um grande sol, porque seus diálogos são luz nas páginas e na nossa vida.

- Você tem a marca de dedo sujo em sua bochecha. Não, não ensta bochecha, na outra. Não, aí, é sua testa. - Sonja lambeu o polegar e esfregou a marca de fuligem da bochecha da menina. - Seu rosto está imundo. É importante manter-se limpa em um hospital.
- Não é limpo esfregar o rosto de outra pessoa com cuspe - disse Havaa desafiadoramente, e Sonja sorriu,
p. 56

Akhmed é um vizinho, médico do povoado, e após ver o pai de Havaa ser levado, sabe que deve sumir com a menina para protegê-la.
Ao longo das páginas vamos conhecendo melhor a complexa história das pessoas do povoado, da amizade entre os três vizinhos que se reuniam para jogar xadrez na casa de Dokka e que termina nessa dor de denúncias.
Da metade para o final, quando temos a face que leva a cada um exercer seu papel de mocinho ou bandido na guerra, achei que o autor foi brilhante. Lembrou demais os contrapontos que George Martin faz conosco no decorrer da leitura das crônicas de Gelo e Fogo. Afinal, será que escolhemos os papeis da nossa vida nessas situações ou nos são impostos?

- Parece que você conhece um monte de palavras grandes.
- É importante conhecer palavras grandes - disse a menina, repetindo a máxima de seu pai - Ninguém pode tirar o que está dentro da sua cabeça depois que já está lá.
p. 48

E Sonja? A médica que abandona o futuro brilhante em Londres para buscar a irmã. Passou tanto tempo a espera dela e quando ela surge é para mais uma vez desaparecer e marcar sua vida pela longa espera.
Natasha que nos apresenta esse destino bem conhecido das lindas russas que procuram uma vida melhor longe das guerras e acabam trancafiadas como escravas. Natasha que presenteia o leitor com vários tons que a vida pode ter, de azuis ensolarados ao cinza sombrio.

Às vezes, enquanto lutava para ganhar notas médias, Natasha se imaginava como a única pessoa em Volchansk que entendia e invejava Sonja pela maravilha que ela era. (...) Quando, em maio de 1989, Natasha precisou de um três no exame final de química para se formar na escola secundária, forçou-se a pedir ajuda à irmã. Elas se sentaram à mesa da cozinha. Sonja abriu o livro e franziu a testa para a visão de um texto sem marações. Ela não fez comentários, não menosprezou a irmã de nenhuma forma e apenas disse:
- Vamos começar pela página um.
p. 155

Esse é um daqueles livros em que não há muito a se dizer sobre a história. Apenas que ele deixa uma marca profunda na gente.
Ele fala muito sobre a guerra, sobre como as vidas são afetadas por esse momento. Acima de tudo é um livro sobre amor. Amor com diferença de idade, amor de pais e filhos, amor paternal sem laços sanguíneos, amor fraternal, amor por estranhos, amor de toda uma vida, a falta de amor, amor na ausência, amor na doença... Amor até mesmo por Alu, este, depois que vocês lerem, espero que lembrem desse comentário e sorriam comigo.

- O que é isto?
- É um biscoito.
Ela balançou a cabeça com os olhos arregalados pela traição.
- Isso não é um biscoito.
- É tipo um biscoito. Sabor biscoito.
- Como pode uma coisa ser sabor biscoito e não ser um biscoito?
- Os cientistas e os médicos podem fazer um tipo de comida ter o gosto de outra.
- Você consegue fazer isso?
Bem que ela gostaria.
- Não sou esse tipo de médica.
p. 49

Geralmente livros profundos e brilhantes não se tornam bestsellers. Tampouco figuram na lista de leitura de muitos. Não leia correndo, mas se abra para a oportunidade de gostar ou não da história de vida dessa vila.

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